Pages

21 janeiro 2010

A Morte, o Estado Intermediário e a Glorificação

Por Wayne Grudem

• Qual é o propósito da morte na vida cristã?

• Que acontece ao corpo e à alma quando morremos?

• Quando receberemos o corpo ressurreto?

• Como ele será?


1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA

A. Morte: Por que os cristãos morrem?

Nosso estudo da aplicação da redenção deve incluir uma consideração da morte e da questão de como os cristãos devem ver a própria morte e a morte dos outros. Devemos também perguntar sobre o que nos acontece entre o tempo que morremos e o tempo em que Cristo vai retornar para nos dar corpos ressurretos.


1. A morte não é uma punição para os cristãos.

Paulo diz-nos claramente que “agora, já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Todas as penalidades dos nossos pecados já foram pagas.Assim, muito embora saibamos que os cristãos morrem, não devemos considerara morte dos cristãos uma punição de Deus ou de alguma forma um resultado da penalidade devida a nós por causa dos nossos pecados. É verdade que a penalidade pelo pecado é a morte, mas essa penalidade não mais se aplica a nós — nem em termos de morte física nem em termos de morte espiritual ou separação de Deus. Tudo isso foi pago por Cristo. Portanto, deve haver outra razão que não a punição de nossos pecados para a morte que os cristãos enfrentam.


2. A morte é o resultado final da vida no mundo decaído.

Em sua grande sabedoria, Deus decidiu que não nos aplicaria os benefícios da obra redentora de Cristo de uma só vez. Antes ele escolheu aplicar os benefícios da salvação de modo gradual em nossa existência. Semelhantemente, ele resolveu não remover todo o mal do mundo de imediato, mas esperar até o juízo final e o estabelecimento do novo céu e da nova terra. Em resumo, ainda vivemos em um mundo decaído e nossa experiência de salvação é ainda incompleta.

O último aspecto do mundo decaído a ser removido será a morte. Paulo diz: “Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (lCo 15.24-26).

Quando Cristo retornar, então se cumprirá a palavra que está escrita: “A morte foi destruída pela vitória”. “Onde está, á morte, a sua vitória? Onde está, á morte, o seu aguilhão?” (lCo 15.54,55). Mas até aquele tempo a morte vai permanecer uma realidade mesmo na vida dos cristãos.

Embora a morte não nos venha como penalidade pelos nossos pecados individuais (porque isso foi pago por Cristo), ela vem como resultado de vivermos no mundo decaído, onde os efeitos do pecado não foram ainda removidos. Ligados à experiência da morte estão outros resultados da queda que prejudicam nosso corpo físico e assinalam a presença da morte no mundo — tanto os cristãos como os não-cristãos experimentam o envelhecimento, as doenças, os prejuízos, os desastres naturais (como as enchentes, tempestades violentas e terremotos). Embora Deus muitas vezes responda às orações para libertar cristãos (e também não-cristãos) de alguns desses efeitos da queda por certo tempo (indicando assim a natureza do seu Reino que se aproxima), os cristãos acabam experimentando todas essas coisas em alguma medida, e, até que Cristo retorne, todos nós ficaremos velhos e morreremos. O “último inimigo” ainda não foi destruído. E Deus resolveu permitir que experimentássemos a morte antes de ganharmos todos os benefícios da salvação que foi conquistada para nós.


3. Deus usa a experiência da morte para completar nossa santificação.

Durante toda a nossa jornada na vida cristã, sabemos que nunca temos de pagar qualquer penalidade pelo pecado, pois tudo foi pago por Cristo (Rm 8.1). Portanto, quando realmente experimentamos dor e sofrimento nesta vida, não devemos nunca pensar que é porque Deus nos esteja punindo (para o nosso mal) . As vezes o sofrimento é simplesmente resultado da vida o no mundo pecaminoso e decaído e às vezes é porque Deus nos está disciplinando (para o nosso bem), mas em todo o caso Paulo nos assegura: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Rm 8.28).

O propósito positivo de Deus nos disciplinar está claramente afirmado em Hebreus 12 , onde lemos: “pois o Senhor disciplina a quem ama [...] Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados”(Hb 12.6,10,11). Nem toda disciplina serve para nos corrigir quando cometemos pecados; Deus pode permiti-la para o nosso fortalecimento, a fim de que possamos ganhar mais capacidade de confiar nele e de resistir ao pecado no desafiador caminho da obediência. Vemos isso claramente na vida de Jesus, que, mesmo sendo sem pecado, todavia “ aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu” (Hb 5.8). Ele foi aperfeiçoado “mediante o sofrimento” (Hb 2.10). Portanto, devemos ver toda fadiga e sofrimento que nos acontece na vida como algo que Deus nos traz para o nosso bem, para o fortalecimento de nossa confiança nele, para nossa obediência a ele e, em última instância, para aumentar nossa capacidade de glorificá-lo.

O entendimento de que a morte não é de modo algum a punição pelo pecado, mas simplesmente algo que Deus nos faz passar a fim de tornar-nos mais parecidos com Cristo, deve servir de grande encorajamento para nós. Esse entendimento deve retirar de nós todo o temor da morte que assalta a mente dos crentes (cf.Hb 2.15). Todavia, embora Deus venha anos fazer um bem por meio do processo da morte, devemos ainda lembrar que a morte não é natural, não é uma coisa boa e, no mundo criado por Deus, ela é algo que não deveria existir. Ela é uma inimiga — algo que Cristo finalmente vai destruir (1Co 15.26).


4. Nossa obediência a Deus é mais importante que preservar a vida.

Se Deus usa a experiência da morte para aprofundar a confiança nele e para fortalecer nossa obediência a ele, então é importante que nos lembremos de que o alvo de preservar a vida neste mundo a qualquer custo não é o alvo maior para o cristão: a obediência a Deus e a fidelidade a ele em todas as circunstâncias são coisas muito mais importantes. Essa é a razão pela qual Paulo pôde dizer:

“Estou pronto não apenas para ser amarrado, mas também para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13; cf. 25.11). Ele disse aos presbíteros de Éfeso: “Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Quando Paulo estava em prisão, não sabendo se morreria ali ou se sairia vivo, ainda pôde dizer: “Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de sempre, também agora Cristo serei engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela morte” (Fp 1.20).

A persuasão de que podemos honrar ao Senhor mesmo na morte e de que a fidelidade a ele é muito mais importante que preservar nossa vida deu coragem e motivação aos mártires no decorrer de toda a história da igreja. Quando confrontados com a escolha entre preservar a própria vida e pecar ou abrir mão da própria vida e ser fiel, escolhiam abrir mão da própria vida: “diante da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Mesmo em tempos em que há pouca perseguição e pouca coisa semelhante ao martírio, seria bom fixarmos essa verdade em nossa mente de uma vez por todas, pois, se desejarmos abrir mão até mesmo de nossa vida por fidelidade a Deus, veremos que é muito mais fácil abrir mão de qualquer outra coisa por causa de Cristo.


B. O que devemos pensar sobre nossa morte e a morte dos outros?


1. Nossa própria morte.

O NT nos encoraja a ver a própria morte não com temor, mas com alegria pela perspectiva de partir e estar com Cristo. Paulo diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Quando está na prisão, não sabendo se seria executado ou se seria solto, ele pode dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.21-23).

Também lemos as palavras de João no Apocalipse: “Então ouvi uma voz dos céus dizendo: ‘Escreva: Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante'. Diz o Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap 14.13).

Os crentes, portanto, não precisam ter medo de morrer, porque a Escritura nos assegura de que nem mesmo a morte “será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39; cf. Sl 23.4). De fato, Jesus morreu para libertar “aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2.15). Esse versículo nos lembra de que, quando falamos de maneira clara sobre nossa ausência de temor da morte, isso proporciona um forte testemunho para pessoas idosas que tentam evitar falar sobre a morte e que não possuem nenhuma resposta para ela.


2. A morte de parentes e amigos cristãos.

Embora aguardemos o tempo de nossa própria morte com a expectativa alegre de estar na presença de Cristo, nossa atitude será um tanto diferente quando experimentarmos a morte de amigos crentes e parentes. Nesses casos, experimentaremos a tristeza genuína — mas mesclada com alegria porque eles foram estar com o Senhor.

Não é errado expressar a tristeza real pela perda da comunhão com os nossos amados que morrem e também tristeza pelo sofrimento e angústia que eles possam ter experimentado antes de morrer. Às vezes os cristãos pensam que mostram falta de fé se lamentam profundamente por um irmão na fé que morreu. Mas a Escritura não dá apoio a essa idéia, porque, quando Estêvão foi apedrejado, lemos : “Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grande lamentação” (At 8.2). Certamente não houve nenhuma falta de fé por parte de ninguém pelo fato de Estêvão estar no céu experimentando grande alegria na presença do Senhor. Todavia, a tristeza daqueles homens piedosos mostrou o genuíno pesar que sentiram com a perda da comunhão de quem amavam, e não foi errado expressá-la — foi correto! Mesmo Jesus, diante da tumba de Lázaro, “chorou” (Jo 11.35), experimentando tristeza pelo fato de Lázaro ter morrido e por suas irmãs e outras pessoas estarem experimentando tristeza, bem como também, sem dúvida, pelo fato de que havia morte no mundo, pois, em última instância, a morte é antinatural e não deveria estar no mundo criado por Deus.

Não obstante, a tristeza que sentimos pela morte de nossos queridos está claramente misturada com esperança e alegria. Paulo não diz aos tessalonicenses que eles não deveriam de forma alguma sentir aflição por causa dos seus amados que haviam morrido, mas ele escreve:

“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança” (lTs 4.13). Eles não deviam se entristecer do mesmo modo, com o mesmo desespero amargo, como acontece com os descrentes. Mas certamente eles se entristeceriam. Ele lhes assegura que Cristo “morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele” (lTs 5.10) e, desse modo, ele os encoraja dizendo que os que morrem vão estar com o Senhor. Essa é a razão por que a Escritura pode dizer: “Felizes os mortos que morrem no Senhor [...] eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap 14.13). De fato, a Escritura mesmo nos diz: “O SENHOR vê com pesar a morte de seus fiéis” (S1 116.15).

Portanto, embora tenhamos genuína tristeza quando amigos e parentes cristãos morrem, podemos dizer com a Escritura: “‘Onde está, á morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?' [...] Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (lCo 15.55,57). Ainda que choremos, nosso choro deve ser misturado com adoração a Deus e ações de graças pela vida dos queridos que morreram.


3. A morte dos descrentes.

Quando os descrentes morrem, a dor que sentimos não está misturada com a alegria da segurança de que eles foram estar com o Senhor para sempre. Essa dor, especialmente em relação àqueles com quem estivemos bastante ligados, é muito profunda e real. Paulo, ao pensar a respeito de alguns de seus irmãos judeus que haviam rejeitado Cristo, disse: “Digo a verdade em Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo: tenho grande tristeza e constante angústia em meu coração. Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça” (Rm 9.1-3).

Deve ser dito ainda que muitas vezes não temos certeza absoluta de que uma pessoa persistiu ate a morte em sua rejeição a Cristo. O conhecimento da morte iminente que uma pessoa tem vai com freqüência produzir uma sondagem genuína do coração por parte da pessoa que está à morte, e às vezes as palavras da Escritura ou palavras de testemunho cristão que foram ouvidas muito tempo atrás serão lembradas, podendo levar ao arrependimento e fé genuínos. Certamente não temos qualquer certeza de que isso aconteceu a menos que haja uma evidência explícita disso, mas também é salutar perceber que em muitos casos temos um conhecimento provável, mas não absoluto de que aqueles a quem conhecemos como descrentes persistiram em sua incredulidade até a morte. Em alguns casos simplesmente não sabemos.

Não obstante, após a morte de um não-cristão certamente seria errado fornecer qualquer indicação a outros de que pensamos que tal pessoa foi para o céu. Isso seria simplesmente fornecer uma informação errônea e uma segurança falsa e diminuiria a urgência da necessidade dos que ainda estão vivos de confiar em Cristo. É muito melhor, em tais ocasiões, à medida que Deus proporciona oportunidade, gastar tempo para refletir sobre nossa vida e nosso destino e ainda partilhar o evangelho com outras. De fato, as ocasiões em que somos capazes de falar como amigos aos amados de um descrente que morreu são muitas vezes as oportunidades que o Senhor abre para falarmos a respeito do evangelho com os que ainda estão vivos.

C. O que acontece quando as pessoas morrem?


1. A alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus.

A morte é a cessação temporária da vida corporal e a separação entre a alma e o corpo. Uma vez que o crente morre, embora o seu corpo físico permaneça na terra sepultado, no momento da morte sua alma (ou espírito) vai imediatamente para a presença de Deus com regozijo. Quando Paulo reflete sobre a morte, ele diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Estar ausente do corpo é estar em casa com o Senhor. Ele também diz que o seu desejo é “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Jesus disse ao ladrão que estava à sua direita: “Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 2 3.43). O autor de Hebreus diz que, quando os cristãos comparecem para adorar juntos, eles vêm não somente à presença de Deus no céu, mas também à presença dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). Contudo, como veremos em mais detalhes a seguir, Deus não vai deixar o corpo para sempre na sepultura, pois, quando Cristo retornar, a alma dos crentes será reunida ao corpo, o corpo será ressuscitado dentre os mortos e os crentes viverão com Cristo eternamente.

a. A Bíblia não ensina a doutrina do purgatório.

O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus significa que não há nada semelhante a purgatório.

No ensino da Igreja Católica Romana, o purgatório é o lugar para onde a alma dos crentes vai a fim de ser purificada do pecado, até que esteja pronta para ser admitida no céu. De acordo com esse pensamento os sofrimentos do purgatório são dados por Deus em substituição à punição dos pecados que os crentes deveriam ter recebido nesta vida, mas não receberam.

Mas essa doutrina não é ensinada na Escritura, e é de fato contrária aos versículos citados anteriormente.A Igreja Católica Romana retirou o apoio para essa doutrina não das páginas das Escrituras canônicas que os protestantes aceitaram desde a Reforma, mas nos escritos apócrifos. Antes de tudo, deve ser dito que essa literatura não é igual à Escritura em autoridade e não deve ser tomada como fonte de doutrina cheia de autoridade. Além disso, os textos dos quais essa doutrina é derivada contradizem afirmações claras do NT e, assim, se opõem ao ensino da Escritura. Por exemplo, o texto primário usado nesse sentido , 2Macabeus 12.42-45, contradiz as afirmações claras da Escritura citadas anteriormente a respeito de partir para estar com Cristo. O texto diz o seguinte: [Depois, tendo organizado uma coleta individual, Judas Macabeus, o líder das forças judaicas] enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado.

Aqui fica claro que tanto a oração pelos mortos como fazer uma oferta a Deus para libertar os mortos de seus pecados são práticas aprovadas. Mas isso contradiz o ensino explícito do NT de que somente Cristo fez expiação por nós. Essa passagem em 2Macabeus é difícil de enquadrar mesmo com o ensino católico romano, porque ele ensina que orações e sacrifícios deviam ser oferecidos pelos soldados que haviam morrido no pecado mortal da idolatria (que não pode ser perdoado, segundo o ensino de Roma) para possibilitar que eles viessem a ser libertos de seu sofrimento.

Outras passagens às vezes usadas para dar suporte à doutrina do purgatório são Mateus 12.32 e 1 Coríntios 3.15. Em Mateus 12.32, Jesus diz: “Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que há de vir”. Ludwig Ott comenta que essa frase “deixa aberta a possibilidade de que pecados são perdoados não somente neste mundo, mas no mundo por vir” . Contudo, isso simplesmente é um erro de raciocínio, pois dizer que alguma coisa não acontecerá na era por vir não implica que possa acontecer na era por vir! O que é necessário para provar a doutrina do purgatório não é uma afirmação negativa como essa, mas uma afirmação positiva que diga que pessoas sofrem com o propósito de ser continuamente aperfeiçoadas até morrerem. Mas a Escritura não diz isso em lugar algum.

Em 1 Coríntios 3.15 Paulo diz que, no diz do julgamento, a obra que uma pessoa fez será julgada e testada pelo fogo, e então conclui: “Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo”. Mas isso não é o mesmo que falar de uma pessoa sendo queimada ou sofrendo punição, mas simplesmente de sua obra sendo testada pelo fogo — o que é bom será igual ao ouro, prata e pedras preciosas, que vão durar para sempre (v. 12). Além disso, o próprio Ott admite que esse fato ocorre não durante esta era, mas durante o dia do “julgamento geral” , o que indica que dificilmente esse texto pode ser usado como argumento convincente para o purgatório.

Um problema ainda mais sério com essa doutrina é que ela ensina que devemos acrescentar alguma coisa à obra redentora de Cristo e que a sua obra redentora por nós não foi suficiente para pagar a penalidade de todos os nossos pecados. Mas isso é certamente contrário ao ensino da Escritura. Além disso, em sentido pastoral, a doutrina do purgatório rouba dos crentes o grande conforto que lhes deveria pertencer por saber que os que morreram foram imediatamente para a presença do Senhor e por saber que eles também, quando morrerem, partirão e estarão “com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23).

b. A Bíblia não ensina a doutrina do “sono da alma”.

O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus também significa que a doutrina do sono da alma é incorreta. Essa doutrina ensina que, quando morrem, os crentes entram no estado de existência inconsciente, e a próxima coisa de que terão consciência será quando Cristo retornar e os ressuscitar para a vida eterna. Essa doutrina nunca encontrou grande aceitação na igreja.

O suporte para esse pensamento tem sido geralmente encontrado no fato de que a Escritura diversas vezes fala do estado dos mortos como de um sono ou de “adormecer” (Mt 9.24; 27.52; Jo 11.11; At 7.60; 13.36; lCo 15.6,18,20,51; lTs 4.13; 5. l0). Além disso, certas passagens parecem ensinar que os mortos não possuem existência consciente (v. Sl 6.5; 115.17 [mas repare no v. 18!] ; Ec 9.10; Is 38.19) . Porém, quando a Escritura apresenta a morte como sono, trata-se simplesmente de uma expressão metafórica usada para indicar que a morte é somente temporária para os cristãos, exatamente como o sono é temporário. Isso é claramente visto, por exemplo, quando Jesus fala com seus discípulos a respeito da morte de Lázaro. Ele diz: “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo” (Jo 11.11). Então João explica: “Jesus tinha falado de sua [de Lázaro] morte, mas os seus discípulos pensaram que ele estava falando simplesmente do sono. Então lhes disse claramente: ‘Lázaro morreu”'(Jo 11.13,14). As outras passagens que falam a respeito de pessoas dormindo quando morrem devem ser também interpretadas como simplesmente uma expressão metafórica para ensinar que a morte é temporária.

Com respeito às passagens que indicam que os mortos não louvam a Deus ou que há uma cessação de atividade consciente quando as pessoas morrem, devem ser todas entendidas da perspectiva da vida neste mundo. De nossa perspectiva, parece que, uma vez que as pessoas morrem, elas não se dedicam nunca mais a essas atividades... Mas o salmo 115 apresenta uma perspectiva plenamente bíblica desse ponto de vista. Ele diz: “Os mortos não louvam o SENHOR, tampouco nenhum dos que descem ao silêncio”(v. 17). Todavia, ele prossegue no próximo versículo com um contraste, demonstrando que os que crêem em Deus bendirão o Senhor para sempre: “ Mas nós bendiremos O SENHOR, desde agora e para sempre! Aleluia!” (v. 18).

Em última análise, as passagens citadas demonstrando que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus e desfruta comunhão com ele ali (2Co 5.8; Fp 1.23; Lc 23.43; Hb 12.23) indicam, todas elas, que há para o crente existência consciente e comunhão com Deus imediatamente após a morte. Jesus não disse: “Hoje você não terá mais consciência de qualquer coisa que está por acontecer”, e sim: “Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 23.43). Certamente a concepção de paraíso entendida naquela época não era a de existência inconsciente, mas de grande bênção e alegria na presença de Deus. Paulo não diz: “Desejo partir e ficar inconsciente por um longo período de tempo”, mas antes “desejo partir e estar com Cristo” (Fp 1.23). Ele certamente sabia que Cristo não estava inconsciente, o Salvador adormecido, mas o Salvador que estava vivo e reinando no céu. Estar com Cristo significava desfrutar a bênção da comunhão da sua presença, e essa é a razão por que partir e estar com Cristo era “muito melhor” (Fp 1.23). Assim, ele diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8).

c. Devemos orar pelos mortos?

Finalmente, o fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus significa que nós não devemos orar pelos mortos. Embora a oração pelos mortos seja ensinada em 2Macabeus 12.42-45 (v. anteriormente), em lugar algum da Escritura isso é ensinado.Além disso, não há indicação alguma de que essa tenha sido a prática dos cristãos no tempo do NT, nem deveria ter sido. Uma vez que os crentes morrem, entram na presença de Deus e ficam no estado de alegria perfeita com ele. Que bom não ter de orar por eles nunca mais! A recompensa celeste final será baseada em atos praticados nesta vida, como a Escritura repetidamente testifica (1 Co 3.12-15; 2Co 5.10; ect.) . Ademais, a alma dos descrentes que morrem vai para o lugar de punição e de eterna separação da presença de Deus. Não seria bom orar por eles também, visto que o destino final deles é estabelecido por seus pecados e por sua rebelião [Em outros dois usos do NT, a palavra paraíso significa ”céu”. Em 2Coríntios 12.4 é o lugar ao qual Paulo foi arrebatado em sua revelação do céu, e em Apocalipse 2.7 é o lugar onde encontramos a árvore da vida.] contra Deus nesta vida. Orar pelos mortos, portanto, é simplesmente orar por algo que Deus nos disse que já foi decidido. Além disso, ensinar que devemos orar pelos mortos ou incentivar outros a fazer isso seria encorajar a falsa esperança de que o destino das pessoas pode ser mudado após a morte delas, algo que a Escritura não nos orienta a fazer em lugar algum.


2. A alma dos descrentes vai imediatamente para a punição eterna.

A Escritura nunca nos encoraja a pensar que as pessoas terão outra oportunidade de confiar em Cristo após a morte. De fato, trata-se exatamente do contrário. A parábola de Jesus a respeito do rico e de Lázaro não dá esperança alguma de que as pessoas possam passar do inferno para o céu após terem morrido. Embora o rico no inferno tivesse gritado : “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo”, Abraão lhe respondeu: “entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem”(Lc 16.24-26).

O livro de Hebreus associa a morte com a conseqüência do julgamento em uma seqüência imediata: “Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb 9.27). Além disso, a Escritura nunca apresenta o juízo final como dependente de qualquer coisa feita após a nossa morte, mas dependendo somente do que aconteceu nesta vida (Mt 25.31-46; Rm 2.5-10; cf. 2Co 5. 10) . Alguns argumentam a favor de outra oportunidade para se crer no evangelho com base na pregação de Cristo aos espíritos em prisão em 1 Pedro 3.18-20 e na pregação do evangelho “a mortos” em 1 Pedro 4.6 , mas essas são interpretações inadequadas dos versículos em questão e, numa análise mais precisa, não dão apoio a tal pensamento.

Devemos também perceber que a idéia de que haverá outra oportunidade de aceitar Cristo após a morte é baseada na suposição de que cada pessoa merece uma oportunidade para aceitar Cristo e que a punição eterna vem aos que conscientemente decidem rejeitá-lo. Mas certamente essa idéia não tem o apoio da Escritura; todos nós somos pecadores por natureza e escolha, e realmente ninguém merece nenhuma graça de Deus nem nenhuma oportunidade de ouvir o evangelho de Cristo — que vêm ao homem somente por causa do favor imerecido de Deus. A condenação vem não somente por causa da rejeição deliberada de Cristo, mas também por causa dos pecados que todos cometemos e da rebelião contra Deus que esses pecados representam (v. Jo 3.18)

Embora os descrentes passem para o estado de punição eterna imediatamente após a morte, o corpo deles não será ressuscitado até o dia do juízo. Naquele dia, o corpo de cada um será ressuscitado e reunido à alma, e comparecerão perante o trono de Deus para o juízo final que vai ser pronunciado sobre eles, incluindo o corpo (v. Mt 25.31-46; Jo 5.28,29; At 24.15; Ap 20.12,1 5) . Isso nos conduz à consideração da ressurreição do corpo do crente, que é o passo final de sua redenção.

D. Glorificação

Como foi mencionado anteriormente, Deus não deixará nosso corpo morto na sepultura para sempre. Quando Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas nosso espírito (ou alma) — ele nos redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção de nosso corpo. Portanto, a aplicação da obra redentora de Cristo a nós não será completa até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos da queda e trazido ao estado de perfeição para o qual Deus o criou. De fato, a redenção de nosso corpo ocorrerá somente quando Cristo retornar e ressuscitá-lo dentre os mortos. Mas, no tempo presente, Paulo diz que esperamos pela “redenção do nosso corpo” e então acrescenta: “Pois nessa esperança fomos salvos” (Rm 8.23,24). O estágio da aplicação da redenção em que receberemos por fim o corpo ressuscitado é chamado de glorificação. Referindo-se àquele dia futuro, Paulo diz que participaremos da glória de Cristo (cf. Rm 8.17) . Além disso, quando Paulo traça os passos na aplicação da redenção, o último que menciona é a glorificação: “E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” (Rm 8.30).

Podemos definir glorificação da seguinte maneira: A glorificação é o passo final na aplicação da redenção. Ela acontecerá quando Cristo retornar e ressuscitar dentre os mortos os corpos de todos os crentes de todas as épocas que morreram e reuni-los às respectivas almas, e mudar os corpos de todos os crentes que permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo tempo um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.


1. Razão bíblica apresentada para a glorificação.

A passagem mais importante do NT para a glorificação ou ressurreição do corpo é lCoríntios 15.12-58. Paulo diz : [...] em Cristo todos serão vivificados . Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem (v. 22,23). Paulo discute a natureza da ressurreição do corpo em alguns detalhes nos versículos 35-50 , e a seguir conclui a passagem dizendo que nem todos os cristãos morrerão, mas alguns que permanecerem vivos quando Cristo retornar simplesmente terão seu corpo instantaneamente transformado em um novo corpo ressurreto, que nunca irá envelhecer, enfraquecer ou morrer: “Eis que eu lhes digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (lCo 15.51,52).

Posteriormente Paulo explica em lTessalonicenses que a alma dos que morreram e foram estar com Cristo voltará e se unirá ao corpo naquele dia, pois Cristo a trará consigo :”Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (lTs 4.14). Mas aqui Paulo não somente afirma que Deus trará mediante Jesus os que morreram; ele também afirma que “ os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (lTs 4.16). Assim, esses crentes que morreram com Cristo também ressuscitarão para se encontrar com ele (Paulo diz no v. 17 que “nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares”). Isso somente faz sentido se diz respeito à alma dos crentes que partiram para a presença de Cristo e que retornam com ele, e se é o corpo deles que é ressuscitado dentre os mortos para ser reunido à sua alma e, então, ascender para estar com ele.


2. Com que se assemelhará o corpo ressurreto?

Se Cristo vai ressuscitar o nosso corpo dentre os mortos quando retornar e se nosso corpo será igual ao seu corpo ressurreto (1 Co 15.20,23,49; Fp 3.21), então a que se assemelhará nosso corpo?

Usando o exemplo de lançar a semente no solo e então aguardá-la crescer e se tornar algo muito mais maravilhoso, Paulo passa a explicar em detalhes com o que nosso corpo será parecido: “Assim será a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. [...] Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial” (lCo 15.42-44,49).

Paulo primeiro afirma que nosso corpo ressuscitado será “imperecível”. Isso significa que ele não se desgastará nem envelhecerá, nem mesmo estará sujeito a qualquer espécie de doença ou enfermidade. Ele será completamente sadio e forte para sempre.Além disso, já que o processo gradual de envelhecimento é parte do processo pelo qual nosso corpo está agora sujeito à pericibilidade, é apropriado pensar que nosso corpo ressuscitado não apresentará qualquer sinal de envelhecimento, antes terá as características da juventude mas ao mesmo tempo de masculinidade ou feminilidade madura para sempre. Não haverá qualquer evidência de doença ou dano, pois todos se tornarão perfeitos. Nosso corpo ressuscitado evidenciará o cumprimento da sabedoria perfeita de Deus em nos criar como seres humanos que são a coroa da sua criação e os portadores apropriados de sua imagem e semelhança. No corpo ressuscitado claramente veremos a humanidade como Deus pretendeu que fosse.

Paulo também diz que nosso corpo será ressuscitado “em glória”. Quando esse termo é contrastado com “desonra”, como é aqui, há uma insinuação da beleza ou da atração que nosso corpo exercerá. Ele não mais será ”desonrável” ou desprovido de atração, mas parecerá “glorioso” em sua beleza. Ele pode até possuir um fulgor radiante em si mesmo (v. Dn 12.3; Mt 13.43).

Nosso corpo também será ressuscitado “em poder” (lCo 15.43). Isso contrasta com a “fraqueza” que vemos em nosso corpo agora. Nosso corpo ressurreto não será somente livre das doenças e do envelhecimento, também receberá plenitude de força e poder — não um poder infinito como o de Deus, naturalmente, e provavelmente nada que se assemelhe a um poder “super-humano” no sentido dos super-heróis da moderna literatura de ficção para crianças, por exemplo; mas ele terá mesmo assim a força e o poder humanos de maneira completa e plena, a força que Deus pretendeu que os seres humanos tivessem em seu corpo quando originariamente os criou. Portanto, ele terá força suficiente para fazer tudo o que desejarmos e que estiver de conformidade com a vontade de Deus.

Por último, Paulo diz que o corpo ressuscitado é um “corpo espiritual” (lCo 15.44). Nas cartas paulinas, a palavra “espiritual” (gr., pneumatikos) nunca significa “não-físico”, e sim “consistente com o caráter e a atividade do Espírito Santo” (v.,p.ex.,Rm 1.11; 7.14; lCo 2.13,15; 3.1; 14.37; Gl 6.1 [“vocês, que são espirituais”]; Ef 5.19). Por isso, a expressão “corpo material” (encontrada em algumas traduções) é inadequada, pois em contraste com “corpo espiritual”. 0 fato de o sinal dos cravos permanece nas mãos de Jesus é um caso especial para nos fazer lembrar do preço que foi pago por nossa redenção, não deve ser entendido que quaisquer marcas ou lesões permanecerão em nós, daria a entender que “corpo espiritual” é um corpo não-físico, imaterial. Em vez de “corpo material”, a tradução melhor seria “corpo natural”. A seguinte paráfrase é esclarecedora: “É semeado um corpo natural [isto é, sujeito às características e aos desejos desta era, dominado por sua vontade pecaminosa] e ressuscita um corpo espiritual [isto é, integralmente sujeito à vontade do Espírito Santo e suscetível à orientação dele] ”. Não se trata de um corpo “não-físico”, mas de um corpo físico ressuscitado e elevado ao grau de perfeição que originariamente Deus pretendeu que tivéssemos. Os exemplos repetidos em que Jesus demonstrou aos discípulos que ele tinha um corpo físico que era capaz de ser tocado, que possuía carne e OSSOS (Lc 24.39) e que poderia comer mostram que o corpo de Jesus, que é modelo para o nosso, era claramente um corpo físico que havia se tornado perfeito.

Para concluir, quando Cristo retornar, ele nos dará novos corpos para que sejam iguais ao seu corpo ressurreto: “... sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (lJo 3.2; essa afirmação é verdadeira não somente no sentido ético, mas também em termos de nosso corpo físico; cf. 1 Co 15.49; tb. Rm 8.29). Tal segurança proporciona a afirmação clara de que a criação física de Deus é boa. Viveremos nos corpos que terão todas as qualidades excelentes que Deus criou para que as tivéssemos e, assim, para sempre seremos prova viva da sabedoria de Deus em fazer tudo na criação material, desde o princípio, “muito bom” (Gn 1.31). Viveremos como crentes ressuscitados no novo corpo,e ele será adequado para a nossa habitação nos “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.13).



Extraído da Teologia Sistemática do autor.

A Verdade: A real condição da humanidade

Parte: 01



Parte: 02



Parte: 03



Parte: 04



Parte: 05



Parte: 06



Parte: 07



Parte: 08



Parte: 09



Parte: 10



Parte: 11



Parte: 12


18 janeiro 2010

Prepare-se

Parte 01:




Parte 02:




Parte 03:




Parte 04:




Parte 05:




Parte 06:


Isso foi profetizado há mais de 2000 anos



15 janeiro 2010

Helena Blavatsky

Helena Patrovna Hahn Fadéef nasceu em de Ekaterinoslav, Rússia, em 1831 e faleceu em 1891. Era teósofa e escritora. Filha do coronel Pedro Hahn, da família nobre germânica Macklenburg e de Helena Fadéef Princesa Dolgorouki da nobreza imperial Russa.

Se mostrava uma mulher independente desde a sua infância. Onde também se destacava sua inteligência e sua extraordinária capacidade psíquica. Teve uma educação completa, era pianista, possuía habilidade lingüista e literária que era característica de sua família. Esteve na França e Inglaterra em 1845 e em 1848; aos 17 anos casou-se com o general Nicephore V. Blavatsky, 51 anos, governador de Etivã. Mas o casamento durou poucos meses, ela fugiu de casa. Pouco depois, com a ajuda de seu pai, viajou para Constantinopla, Ásia Menor, pelo tempo necessário para que a separação matrimonial se torna-se legal. No Egito, conheceu um mestre copta, que a iniciou nas ciências ocultas. Em Londres, em 1851, reunida com o seu pai, recebeu a missão de um mestre hindo, de fundar uma sociedade espiritualista de grande transcendência. A partir dai ela começou então seus anos de peregrinação e aventuras sempre contando com a ajuda de seu pai e herança de uma tia. Neste tempo ela aprendeu a controlar e desenvolver suas forças psíquicas através de inúmeras experiências extraordinárias.

Em 1851, fez sua primeira viagem de circunavegação; passou por Canadá, Estados Unidos (N. Orleans, Texas), México, Peru (Callao), Índia (Bombaim), Ceilão e Nepal. Tentou entrar no Tibete, mas sua tentativa foi frustrada. Conheceu também as colônias holandesas (Java, Bornéu) e Singapura. Em 1853, iniciou sua segunda volta ao mundo, que terminaria em 1858. Passou por Inglaterra (Londres), EUA (Chicago, São Francisco, onde permaneceu dois anos), Japão (Yokohama), Índia (Caucutá) e novamente tentou visitar o Tibete; depois Alemanha e França.

O período de 1858 até 1867 foi um dos mais obscuros de sua vida. Residiu com a família no Cáucaso e na Ucrânia. Em 1863 foi à Itália e provavelmente durante 1863 e 1864 viajou através da depressão caspiana do Ural e o Embal, região dos lagos Kirguises do Aral e o Turnir e Balkach. Finalmente conheceu o Tibete, onde permaneceu um certo tempo com mestres tibetanos que lhe deram sua iniciação. Depois foi para o Cairo, Palestina e Grécia, onde foi ferida ao lado de Garibald na batalha de Mentana, em 1867. Em seguida viajou para a Rússia (Odessa) e França (Paris), onde pela primeira vez tentou fundar uma sociedade ocultista, em 1872.

Do ano de 1872 a 1879, viajou para Nova York, onde conheceu o movimento espírita (Irmão Eddy) onde tentou explicar os fenômenos paranormais e seu ponto de vista ocultista.
Em 17 de novembro de 1875, depois de muitos fracassos e um grande período de preparação, fundou com o coronel Henry S. Olcott e outros amigos a Sociedade Teosófica (The Theosophical Society).

Do ano de 1879 ao ano de 1885, viajou à Índia com o coronel Olcott. Estabeleceu os primeiros fundamentos sólidos de seu trabalho em Bombaim e Adyar. Sofreu ataques da Society For Psychical Research de Londres, do casal Coulomb e das missões Anglicanas de Bombaim e Madras.

Apartir de 1887, passou a residir em Londres. Este período é o mais "brilhante" de sua vida. Helena recebeu ajuda a inspiração de seus mestres Koot Hoomi, que era seu principal mentor, e Morrya, ambos inspiradores da Sociedade Teosófica, e de Hilarion, para inspiração de seus textos narrativos. Seus mestres a chamavam de Upasika. Na Rússia era conhecida pelo seu pseudônimo literário, Radha Bai.

O senhor Cyril Scott a considerava uma reencarnação de Paracelso. Hoje ela é muito conhecida pelo nome Helena Petrovna Blavatsky.

>> Fonte: Mr. Tlaloc, no website http://www.sobrenatural.org. Informamos que a matéria está divulgada de forma integral e sem alterações ou cortes no texto.

>> Nota: Vale lembrar que este texto não foi escrito sob a ótica cristã; portanto use-o com cautela.

Aleister Crowley

Edward Alexander Crowley, ou melhor, Aleister Crowley, nascido em Lemington, Inglaterra, em 12 de outubro de 1875, falecido em Netherwood, Hastings, em 1 de dezembro de 1947, se não foi um dos maiores ocultistas do séc. XX, foi pelo menos um dos mais controvertidos.

Filho de Família puritana, foi criado na seita dos Irmãos de Plymouth. Desde cedo combateu o Cristianismo, e em 1898 iniciou-se na Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada) que teria uma grande influência na sua vida e na sua obra, assim como na de seu secretário e discípulo Israel Regardie.

Com a morte da mãe, Crowley recebe como herança 40.000 libras. Dinheiro que financiaria as aventuras de sua vida; e quando o dinheiro se extinguiu, Crowley utilizou o dinheiro de diversos benfeitores, entre amigos, discípulos e amantes, que sustentariam seu luxo e suas exentricidades.

A Golden Dawn foi, em muitos aspectos, principal (e talvez o único) ramo do Rosacrucianismo nos últimos 15 anos do séc. XIX. Foi fundada por quatro membros da S.R.I.A. (Societas Rosicruciana in Anglia) - S. L. Mac Gregor Mathers, W. W. Westcott, Woodman e Woodford, segundo manuscritos vindos da Alemanha, fornecidos por uma tal Ana Sprengel. Desenvolveu-se em seu seio estudos aprofundados de Tarot e de Qabalah, assim como de magia.

A espinha dorsal da Golden Dawn era formada pelos ensinamentos mágicos herdados da Idade Média, Eliphas Levi, Francis Barret e John Dee, entre outros, além da mente brilhante de Mac Gregor Mathers que montou e organizou todos os rituais e graus da Ordem, chefiando-a inicialmente com os outros três, e mais tarde sozinho, até a dissolução da Ordem em 1900.

Mesmo após sua saída da Golden Dawn, Crowley continuou divulgar os conhecimentos que lá aprendera, seja na Astrum Argentum, ou na O.T.O. (Ordo Templi Orientis), ou mesmo nos volumes do Equinox.

Ao entrar na Golden Dawn, Crowley foi apadrinhado e instruído por Alan Bennet (Frater Iehi Aour). Assumiu o nome de Frater Perdurabo (Perdurável) e tornou-se amigo íntimo de Mac Gregor Mathers, a tal ponto que trocou seu nome pelo de Aleister Mac Gregor, querendo com isso indicar um possível laço familiar. Junto com Mathers combateu a W. Yeats, que pretendia (e mais tarde conseguiu) dividir o comando da Golden Dawn e assumir o Templo de Ísis Urânia, o principal de Londres.

A habilidade de Crowley para a magia e o ocultismo eram tais que em 1 ano, ele já dominara todos os chamados Graus Externos da Golden Dawn, causando inveja de outros membros, que recusavam-se a lhe aceitar nos Graus Internos da Ordem. O artifício de mudar o nome para Aleister Mac Gregor foi também um meio de franquear-lhe as portas para esses graus.

Aqui podemos adicionar o progresso feito por ele na Golden Dawn:

- Adeptus Minor 5º=6º Janeiro de 1900;
- Adeptus Major 6º=5º Abril de 1904;
- Adeptus Exemptus 7º=4º 1909;
- Magister Templi 8º=3º Dezembro de 1910;
- Magus 9º=2º Outubro de 1915.

Em 1905, porém, Crowley e Mathers se separaram de um modo não muito amigável. Em 1904, enquanto viajava pelo Egito com sua esposa (Rose Kelly), que tinha o dom da vidência, passam três dias (8, 9 e 10 de abril de 1904), ela ditando, e ele escrevendo, o seu evangelho, ditado pelo espírito de Aiwas (Segundo Crowley, ministro de Hoor-paar-Kraat, ou Harpócrates, pelos Gregos) conhecido pelo nome de “O Livro da Lei”.

Ainda em 1905, Crowley fundou a A:. A:. (Astrum Argentum), Ordem ocultista que segue os moldes da Golden Dawn, embora sem o mesmo sucesso.

A primeira menção feita ao Livro foi apenas em 1927 e sua primeira publicação em 1938, e os detratores de Crowley se utilizam deste argumento para dizer que ele buscava dar a obra uma antiguidade que não era real. Porém, a introdução original do Livro da Lei é assinada por O.M. e leva o selo da Golden Dawn (Aurora Dourada) e a firma ali corresponde a de Mac Gregor Mathers e nesta época Crowley ainda mantinha relações afins com a Ordem.

Em 1912 foi convidado por Teodore Reuss, Grão Mestre da O.T.O. desde 1905. A idéia inicial era que Crowley organizasse os Graus Superiores da Ordem e liderasse a Região da Irlanda, Iona e as Ilhas Britânicas. Crowley aceitou de bom grado, uma vez que a Astrum Argentum tinha poucos membros e a O.T.O. já possuía uma fama internacional, o que lhe permitiria atingir um número muito maior de pessoas com seu “evangelho da vontade e do amor”. Permaneceu na O.T.O. até 1921, quando houve uma ruptura na O.T.O., causada pela influência do Tantra Yoga (ou Magia Sexual) no 9º Grau da Ordem, que agradava a uns e desagradava a outros.

Entre 1938 e 1943, Crowley uniu-se a Lady Frieda Harris para corrigir e atualizar o Tarot Medieval. O trabalho que inicialmente deveria durar 3 meses, acabou se estendendo por 5 anos.

A primeira edição do Tarot de Crowley foi feita por Carr Collins e a sua Fundação do Santo Graal, apenas em preto e branco. Em 1969 um editor de livros de ocultismo lançaria a primeira edição em cores, mas de péssima qualidade. Apenas em 1979 é que o Tarot foi publicado com o padrão de qualidade requerido para um trabalho desta natureza.

Crowley faleceu em 01/12/1947, pobre e doente, enfraquecido por seus excessos com a bebida e drogas. Chamado pela imprensa de "O Homem Mais Perverso do Mundo", deixou a todos os seus inimigos e admiradores "uma obra de imenso valor", senão pelo conhecimento, talvez pelo esforço, de um homem que dedicou sua vida inteira ao estudo do oculto e da Magia. Crowley assumiu ao longo de sua vida, uma enorme quantidade de nomes e títulos que atribuía a si mesmo. Seguem abaixo alguns dos principais nomes por ele utilizados:

- Conde Vladimir Svareff;
- Master Therion;
- Príncipe Chioa Khan;
- Baphomet;
- Frater Perdurabo;
- Aleister Crowley;
- Aleister Mac Gregor;
- Lorde Boleskini.

Frases de Crowley

“Cada carta é, em determinado sentido, um ser vivo, e suas relações com as vizinhas são o que poderia-se chamar de diplomáticas. Ao estudante cabe a tarefa de incorporar estas pedras vivas a seu templo vivente” - O Livro de Toth.

“A Magia é a Arte ou a Ciência de causar mudanças com a Força de Vontade” - O Livro de Thoth.

“Há de se considerar a popularidade pueril do cinema, o rádio e os prognósticos esportivos; as competências da adivinhação e todas as invenções; úteis apenas para satisfazer aos caprichos de algumas crianças mal-criadas que carecem de vontade, de sentido e de propósito” - O Livro da Lei.

“Invoca-me sob as estrelas! O Amor é a Lei, o Amor antes do querer. Que nem os tontos equivoquem o Amor, porque há amor e Amor, existem a pomba e a serpente. Escolha Bem” - O Livro da Lei.

“A Lei é feita da tua vontade. A Lei é a do Amor, o amor sob tua vontade, não há mais a Lei; faça a tua Vontade” - O Livro da Lei.

“...A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros. E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela terrível palavra: Fracasso.

Mas não existe nem uma só folha do livro na qual não apareça esta palavra; mas enquanto é seguida por uma nova afirmação, ainda nem tudo está perdido, já que desta maneira no livro a palavra Fracasso perde toda a sua importância, da mesma maneira que a palavra êxito não deve ser empregada jamais, porque esta é a última palavra que deve-se escrever no livro, e é seguida por um ponto.

Este ponto não se deve escrever em nenhum outro lugar do livro; porque o escrever neste livro segue eternamente; não há forma de encerrar este diário até que haja alcançado a meta. Que cada página deste Livro esteja repleta de música, porque é um Livro de Encantamentos!”.

O homem mais perverso do mundo

Dentro do mundo do ocultismo, por vezes, ganharam renome especial pessoas que, pelos seus estudos e investigações, se destacaram em tão árido e enigmático campo. Noutras ocasiões foram os seus praticantes, os magos, os bruxos etc., que ganharam uma significativa popularidade, tanto pelos seus escândalos, como pela sua singular personalidade. Tal foi o caso do inglês Aleister Crowley, recordado no mundo da magia e do esotérico como um ser aberrante, ainda que dotado de um extraordinária talento para as Ciências Ocultas.

Crowley rompeu com todos os moldes ritualísticos então estabelecidos. Se, por um lado, procurou assimilar os conhecimentos clássicos mais diversos, por outro, não hesitou em melhorar tais práticas, introduzindo fórmulas novas e praticando a Magia Verde até níveis que raiavam a obsessão erótica. Foi muito criticado, atacado e caluniado, porém não perturbou. Inclusivamente, encontrava certo prazer em ser o alvo do ódio de uma sociedade que considerava caduca e atrasada. Isso ajudava, além disso, a realçar a sua enigmática figura de mago, posto que ele próprio tinha adoptado os nomes de "o homem mais perverso do mundo" e "a Grande Besta 666" (fazendo referência, com este número, ao Anticristo do Apocalipse).

Para compreender, em parte, a atuação e mentalidade desta mago que, apesar dos seus extravios, raiou o genial, penetrando nos planos mentais e mágicos, nos quais ninguém tinha ousado encontrar antes, há que recordar que nasceu em 12 de Outubro de 1875, o ano em que Helena P. Blavatsky e o seu companheiro, o coronel Olcott, fundavam, em Nova York, The Theosophical Society (A Sociedade Teosófica). E por aquela época achava-se em pleno auge o movimento espiritista em todo o mundo. As irmãos Fox assombravam com as suas experiências e as investigações de William Crookes sobre o Espiritismo eram seguidas com grandes interesse pelo público, enquanto as seitas e as sociedades secretas abundavam por todas a parte e havia poucos meses que tinha falecido o francês Éliphas Lévi, autor de vários livros de magia, entre os quais se destaca Dogma e Ritual da Alta Magia.

Crowley veio ao mundo num período de enorme efervescência místico-esotérica, num momento em que a intensa inquietação pelo secreto e pelo oculto alcançava quotas muito elevadas. Abundavam as seitas revolucionárias, os textos teosóficos, os escritos sobre missas negras, os escândalos dos grupos espiritistas e a propagação de doutrinas orientais. Crowley escolheu este mundo e desprezou tão publicamente quanto pode o falso puritanismo que até então havia sido o espelho da sociedade inglesa e, em parte, ocidental. Nesse marco mágico-espiritual desenvolveu-se a personalidade de Crowley, rebelando-se contra todas as normas sociais e religiosas, até ao ponto de ele próprio acreditar ser "A Grande Besta".

O verdadeiro nome deste singular mago era Edward Alexander Crowley e nascera em Leamington, Warwickhire (Inglaterra). Mas, em 1895, quando tinha vinte anos de idade, decidiu desligar-se do seu nome de origem, que considerava pouco menos que uma estupidez familiar, e adoptou o sobrenome de Aleister (na realidade de Alistair, a forma gaélica de Alexander), com o qual seria mundialmente conhecido.

No Verão de 1898, Crowley partiu para a Suíça, para fazer alpinismo, de que gostava tanto como de escrever poemas. Em Zermatt (Alpes suíços), conheceu um inglês chamado Julian L. Baker, estudioso dos fenómenos ocultistas. Ambos os homens tinham conhecimentos alquímicos e logo travaram uma forte amizade, unidos pelos seus conhecimentos esotéricos.

De regresso a Londres, Baker apresentou Aleister a um jovem químico chamado George Cecil Jones, que era membro da sociedade mágica denominada Hermetic Order of The Golden Dawn (Ordem Hermética da Alva Dourada). Esta nova amizade ia ser decisiva para o inquieto Aleister, pois através dela ia penetrar nos verdadeiros arcanos da magia.

Golden Dawn era uma sociedade secreta dedicada ao ensino da magia entre um grupo de pessoas selecionadas. Supunha-se que esta sociedade era depositária de segredos que se atribuíam a Hermes Trismegisto. Segundo parece, nas suas remotas origens era uma irmandade de rosacrucianos, que mais tarde derivou completamente para as práticas mais diversas. Cerca de 1850, com a morte de alguns dos seus membros mais notáveis, a sociedade pareceu eclipsar-se, mas cobrou novo alento na década dos 80.

Na sua primeira etapa, a Golden Dawn contou entre os seus sócios ocultistas tão famosos como Éliphas lévi, Ragon, Kenneth R. H. Mackenzie e Fred Hockley. E dos membros dessa segunda época há conhecidas e importantes como o poeta W. B. Yeats, o escritor de temas sobrenaturais, Algernon Blackwood, o literato do mundo do horror e do inexplicável, Arthur Machen, Bram Stocker (o criador literário de Drácula), a atriz Florence Farr, o ocultista Dion Fortune, Austin Osman Spare, Allan Bennett, Samuel Liddell MacGregor Mathers, William Wynn Westcoot e Sax Rohmer.

Em 1884, a sociedade entrou na posse de um misterioso manuscrito que foi decifrado por S.L.MacGregor Mathers que sucedeu a W.W.Westcott, uma autoridade da Cabal, como cabeça visível da Golden Dawn. Mathers traduziu e publicou em inglês As Chaves de Salomão e O Livro da Magia Sacra de Abra-Melin o Mago.

Foi nesta ordem que Aleister Crowley se iniciou na Alta Magia, começando a subir o fantástico, mas também penoso, caminho que o havia de conduzir ao ponto máximo do sobrenatural. Foi aceite como membro em 18 de Novembro de 1898, começando pelo grau zero, como Neophyte.

Tal como sucedia entre os maçons e rosacrucianos, na Golden Dawn havia várias graus de membros e os chefes eram secretos, embora existisse uma cabeça visível da Ordem. A graduação dos membros era a seguinte:

* Primeira ordem:

- Neophyte - grau zero;
- Zelator - 1.º grau;
- Theorius - 2.º grau;
- Practius - 3.º grau;
- Philosophus - 4.ºgrau.

* Segunda ordem:

- Minor - 5.º grau;
- Adeptus Major - 6.º grau;
- Adeptus Exemptus - 7.º grau.

Em dezembro do mesmo ano do seu ingresso, Crowley alcançou o grau de Zelator; depois obteve o de Theoricus e dois meses mais tarde o de Practius.

Em Maio de 1899 era já Philosophus, o que dá uma leve ideia da sua capacidade para assimilar conhecimentos mágicos, pelos quais sentia uma verdadeira obsessão, sobretudo sob o ponto de vista prático. Não havia ritual nem invocação que se não atrevesse a realizar, por muito perigoso e obsceno que o mesmo fosse, especialmente quando escalou os graus da Segunda ordem.

Disposto a cruzar todas as fronteiras humanas e da mente, pensando na "projecção astral", tomou as mais exóticas drogas que, segundo a tradição mágica, "lhe podiam abrir as portas do mundo que se encontrava por trás do véu da matéria". Usou o ópio, a cocaína, o haxixe... E em breve a sua existência de transformou numa série de êxtase, abominações, perversões mágico-sexuais e audácias, desafiando a opinião publica de todos os países que percorreu.

Uma guerra mágica

Na sua procura de novos segredos místicos ou mágicos, Crowley viajou, entre os anos de 1901 e 1902, pela Índia, Ceilão e Egipto. Com enorme quantidade de escritor e apontamentos, tirados dos mais raros grimórios, regressou à Inglaterra, isolando-se nas suas terras de Boleskine, próximo do lago Ness, na Escócia. Tinha ali erigido um templo em que realizava os rituais mágicos prescritos por Abramelin ou Abra-melin na sua Magia Sacra, e que eram imprescindíveis para entrar em contacto com os seres do plano astral ou espíritos superiores.

Pouco tempo mais tarde, quando tinha vinte e oito anos, contraiu matrimónio com uma viúva chamada Rose Kelly. O casal foi em viagem de núpcias a varias cidades europeias, atéue chegou ao Cairo. Uma vez ali, Aleister convenceu Rose a passar com ele uma noite na Câmara Real da Grande Pirâmide. Seguindo rituais ancestrais, evocaram o deus Thot; tiveram estranhas visões e Crowley saiu da Grande Pirâmide convencido que se encontrava no bom caminho para desenvolver os seus poderes mágicos..

O casal prosseguiu viagem até Ceilão, mas, em 1904, regressou ao Cairo, onde alugou um andar inteiro do Museu Boulak. Ali, Crowley realizou uma série de cerimonias magicas para invocar Thot o deus egípcio da magia. E, no meio de estranhas e surpreendentes circunstâncias, uma potência angélica, que dava pelo nome de Aiwass, ditou a Aleister "O Livro da Lei" (The Book of the Law) ou Liber Legis, no qual se prediz a destruição da civilização, tal como o conhecemos, e se proporciona um guia para formar a Nova Era.

Aleister considerava-se o ser eleito para ensinar o novo caminho, a força mágica que havia de servir de archote à nova civilização, mas o seu credo somente foi aceite por uma minoria, embora atualmente os acontecimentos pareçam dar-lhe razão.

Considerando que reunia maiores méritos que MacGregor Mathers para dirigir a Golden Dawn, deu os passos necessários para minar a personalidade daquele. Vendo a ambição de Crowley, Mathers utilizou todos os seus conhecimentos ocultistas para enfrentar o seu rival, e o resultado foi uma terrível guerra mágica entre os dois colossos do ocultismo inglês.

O orgulhoso Mathers depreciou totalmente as revelações feitas pelo Aiwass a Crowley e enviou-lhe, por meio de rituais de Magia Negra, uma série de demónios para o atacaram. Segundo parece, os ditos rituais demoníacos foram tirados por Mathers do livro de Abra-Melin.

O resultado foi que a ninhada de sabujos de Crowley morreu misteriosamente e o seu criado enlouqueceu, tentando matar Rose. Aleister, armado com um arpão de pescar salmões, conseguiu encerrar o demente no sótão, de onde foi retirado pela polícia.

Uma vez recomposto da surpresa desse ataque, Crowley passou à contra-ofensiva mágica. Evocou as forças guetianas, as potências malignas e os quarenta e nove servidores de Belzebu atacaram Mathers na sua residência de Montmarte (Paris). Este defendeu-se com as suas artes mágicas do furibundo ataques dos entes malignos, mas, embora tivesse ficado com vida, até à sua morte já não teve forças para continuar a lutar com "A Grande Besta". S. L. MaGregor Mathers morreu, em 1918, sem ter feito nada de notável naqueles últimos anos. A sua saúde tinha ficado bastante abalada devido ao assalto das forças astrais e demoníacas postas em ação por Crowley. A direção da Golden Dawn passava inteiramente para as mãos de Aleister.

Rose, que era dotada do dom da clarividência, pode "presenciar" o ataque dos referidos entes malignos e descreveu-se a Crowley, que incluiu as descrições de alguns deles na sua obra The Scented Garden of Abdullah, the Satirist of Shiraz ("O Jardim de Abdullah, o Satírico de Shiraz"): Nimorup (espécie de anão de grande cabeça, longas orelhas e lábios a escorrer baba, de um verde bronzeado) e Nominon (uma espécie de grande e esponjosa medusa com uma mancha esverdeada e luminosa, como se se tratasse de uma obscena confusão).

Obras e malefícios de Crowley

Crowley praticou uma forma de magia ao estilo dos Vamacharis, seguidores da "Senda da Mão Esquerda", que efetuavam os seus rituais com mulheres, pois estas pertencem à Lua, à esquerda, Crowley enriqueceu os rituais com práticas sexuais tântricas recolhidas nas suas viagens à India.

Foi tal a sua obsessão pela magia, que se pode dizer que, fora das suas invocações e evocações, Aleister não teve contatos com mulheres. Praticou com elas varios tipos de ritos sexuais; em alguns foi ajudado pela irmã Leila Bathurst, grande secretária geral da O.T.O., que foi a sua "mulher escarlate" (a mulher que encarnava a potência sexual criadora).

Aleister Crowley não só transmitiu uma nova seiva à Golden Dawn, como, em 1905, fundou a AA (Astrum Argentinum), associação cujo mágico pretendia formar profetas.

Crowley introduziu nos seus rituais mágicos algumas invocações gregas e egípcias combinadas com os princípios do yoga. Proclamava que cada pessoa era uma estrela e que o supremo objetivo do oficiante devia ser "transpor o abismo". Sempre defendeu os rituais com poucas pessoas e dizia que aquele que desejasse conhecer a magia devia investigar e experimentar a sós. Afirmava que as "forças ocultas" só inspiravam individualmente profetas, não multidões.

Os ritos dos antigos egípcios e gregos tiveram grande preponderância na magia de Crowley que pretendia ser a reencarnação do sacerdote tebano Ankn-f-n-Khonsu, que viveu durante a XXVI dinastia.

Partidário da reencarnação, Crowley dizia ter tido revelações das suas antigas vidas. Assim, segundo confessa no seu diário The magical record of the Beast 666 (O Registo Mágico da Besta 666), tinha sido, o sábio chinês Ko Hsuan (um discípulos de Lao-Tzé), o Papa Alexandre VI, o conde de Cagliostro, o doutor Jonh Dee, Éliphas Lévi... Como Lévi, cujo verdadeiro nome era Alphonse Louis Constant, havia morrido seis meses antes do seu nascimento, Crowley afirmava que o espírito daquele tinha entrado no seio materno no terceiro mês da gestação.

No que refere a Jonh Dee (1527-1608), pelo qual Aleister Crowley teve uma atração especial, seguindo muitos dos seus rituais, foi um famoso astrólogo, matemático e alquimista da corte de Isabel I de Inglaterra. Um dos livros mais curiosos que deixou escrito foi A True & Faithful Relation (Uma Relação Fiel e Verdadeira), que trata dos espíritos e das aparições, publicada em Londres em 1659.

Para as suas predições, Crowley utilizava muitos dos métodos mágicos de Jonh Dee e do seu colaborador Edward kelly, médium e profeta que predisse o trágico final de Maria Stuart e o desastre da Invencível Armada, que a Espanha enviou para a Inglaterra.

É evidente que Crowley misturava os seus rituais secretos antigos com práticas satânicas, muitas das quais não foram tornadas públicas por os seus herdeiros considerarem que o público ainda não está preparado para as compreender. Atribuem-lhe mesmo missas satânicas em que se sacrificavam seres humanos. A informação fidedigna de que dispomos dá a entender que Crowley chegou a realizar algo parecido a uma missa diabólica, tanto pelos seus atos sexuais como pelos animais que sacrificava.

Durante a primavera de 1910, este, obcecado pelo oculto, realizou um extraordinário ritual em invocou Bartzabel, o espírito de Marte, para que viesse em seu auxílio e o ajudasse para que o mundo reconhecesse o seu talento e o seu poder mágico. Na cerimónia foi assistido pela violinista australiana Leila Waddell, a sua "mulher escarlate", durante algum tempo, que também era conhecida por "Laylah" ou irmã Cibeles.

Após um romance com Mary d'Esté Sturges, companheira de Isadora Duncan, Aleister voltou para a sua "mulher escarlate", ideal para realizar rituais sexuais. Juntos foram a Moscovo (1913), para publicamente apresentarem algumas das suas cerimónias esotéricas.

Ao rebentar a primeira Guerra mundial, Crowley partiu para os Estados Unidos, entrando em contato com vários sociedades ocultistas e fundando diversos templos. Os seus rituais depravados começaram a levantar algumas polemicas e a figura da "Grande Besta" adquiriu certa fama. O importante para ele era obter o conhecimento daquilo a que chamava Santo Anjo Guardião, yoga perfeito ou união da alma com o seu secreto manancial. E considerava que o tinha conseguido: para a posteridade deixava O Livro da lei, ditado por Aiwass.

As obras de Crowley, sobretudo The Magical Record of the Beast 666 (O Registo Mágico da Besta 666) e The Magic in Theory and Practique (A Magia na teoria e na Prática) refletem essa inquietude na procura do inacessível, de modo semelhante àquele por que os antigos alquimistas procuravam o elixir da eterna juventude. Cita inúmeros exemplos práticos mágico-sexuais: para criar energia mágica na união homem-mulher, para consagrar os talismãs com rituais autocráticos, para revitalizar o corpo, para materializar os objectos desejados...

O fim de "A Grande besta"

Com o nome de Thelema (o país em que Gargantua, a personagem criada por Rabelais, constrói a sua fantástica abadia), Aleister Crowley fundou em Cefalú (Sicília), uma abadia mágica (1920), na qual realizou os rituais mais singulares, fantásticos e depravados, com as suas seguidoras. Mas as orgias "sagradas" que se celebravam em Thelema, com consumo de drogas para obter a libertação, para facilitar a viagem astral, não duraram muito. Várias das "irmãs" tiveram de ser hospitalizadas e, em 1923, o governo italiano expulsou Crowley, fechando a abadia ocultista, na qual se tinha intentado penetrar nos arcanos das forças astrais sem considerar meios nem barreiras morais de qualquer espécie.

Crowley morreu de uma degeneração miocardíaca com complicação de bronquite cronica na noite de 1 Dezembro de 1947, em Hastings, com 72 anos. A "irmã" Tzaba, que o assistiu nos momentos cruciais ao passar a grande barreira, recolheu as suas últimas palavras, que foram: "Estou perplexo...".

Na quinta-feira, 5 de Dezembro de 1947, os restos do ousado ocultista inglês foram incinerados no crematório de Brighton. Estiveram presentes no funeral alguns dos seus amigos, discípulos e admiradores: Gilbert Bayley, "irmãs" Tzaba e Ilyarun, "irmãos" Volo Intelligere e Aossic, o poeta Kenneth Hopkings...

No final de cerimónia fúnebre na capela do crematório, os seus seguidores entoavam o orgiástico Hino a Pã, escrito pelo próprio Crowley, seguido do Réquiem Gnóstico. O ato levantou os protestos da câmara municipal de Brighton e o responsável do crematória viu-se obrigado a desculpar-se pelo sucedido, prometendo que se tomariam medidas para que no futuro não se voltassem a repetir incidentes daquela natureza.

Como epitáfio, perante o seu túmulo, alguns dos seus fervorosos discípulos cantaram o Hino a Satã, de Carducci, e celebraram uma espécie de missa negra.

As cinzas do corpo físico de Crowley ficaram na terra, na urna do mago, mas o seu espirito, metamorfoseado em ideias e rituais graças às revelações do demônio Aiwass, embora continue a perdurar nas suas obras e entre os seus seguidores, que não são poucos, que continuam a invocar, por meios mágicos, as forças astrais por ele identificadas e tipificadas: as forças ocultas que se encontram por trás do pano de fundo da aparência real do mundo.

>> Autor: Frater Goya (Anderson Rosa). Agradeço pela permissão de uso do texto.

>> Nota: Vale lembrar que este texto não foi escrito sob a ótica cristã; é somente informativo.